terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Esconde-esconde

Estamos realmente com a cabeça virada. Como disse o poeta baiano Gilberto Gil “de um lado esse carnaval, do outro a fome total”.
Certa vez estive no Vaticano, local religioso e habitação do Papa Francisco. Era um domingo matinal e o Papa faria uma benção publicamente. Todos aguardavam pacientemente, e na hora exata o Papa aparece e faz sua pregação.
No entanto, apesar desse lindo cenário encantar a todos, me perguntava: Qual a necessidade de tanta ostentação no Vaticano? Esconder todos os males causados no passado à sociedade? Não sei a resposta! Sei apenas que fiquei impressionado com tanta riqueza na cidade do Papa. Bom seria se transferissem o Vaticano para alguma cidade pobre da África. Talvez assim esse continente conhecesse o progresso. Mas preferimos viver a ostentação, pois na verdade desejamos a riqueza e o glamour. Sentimentos bastante trabalhados na principal cidade religiosa do mundo. Percebi que aquilo que os religiosos mais ensinam (combater o orgulho e a vaidade) na verdade não é colocado em prática por seus principais líderes.
Na mesma oportunidade estive em Assis - Itália. Local de nascimento de Francisco de Assis (nome adotado pelo Papa), conhecido pelo desapego e entrega literalmente a vida cristã. Cidade muito simples, mas que guarda uma belíssima arquitetura medieval. Caminhado, chegamos a Basílica de São Francisco, linda e glamorosa. Nessa mansão cristã é possível encontrar os restos mortais desse Santo. Mas não foi isso que estava buscando. Gostaria de conhecer a igreja que São Francisco fazia suas pregações. A igrejinha de São Francisco. Tinha certeza que esse Santo não ostentaria uma igreja glamorosa, rica em orgulho e vaidade.
Tempos depois fui informado onde seria a tal igrejinha. Com muita alegria caminhei até o local. Lá chegando, a decepção me dominou, e um sentimento de frustração invadiu minha alma. Uma igreja tão imponente quanto a inicial, denominada Basílica de Santa Maria dos Anjos. Com muita tristeza entrei nesse templo sagrado. Não queria acreditar que essa era a igrejinha de São Francisco. No entanto, segundos depois de entrar no templo, o sentimento de tristeza se transformou em alegria e a decepção foi extirpada do peito. Lá, perto do altar, visualizei uma capelinha, tão simples e humilde que causava vergonha, muita vergonha. Para cobrir essa vergonha foi necessário deixa-la dentro de um rico monumento. Não cabe simplicidade e humildade em uma sociedade tão consumista! Mesmo assim, as pessoas preferiam se sentar nos bancos da humildade para fazer suas orações, ao invés dos bancos de madeira de lei.
Pensei muito sobre esse cenário. Conclui que muitas vezes sentimos vergonha da nossa essência e precisamos esconde-la. Penso que seria muito mais coerente deixar a capelinha no formado original, seria mais sensato com a vida e pregação de São Francisco. Ensinaria a todos que manter a sua essência é primordial. Mostraria ao mundo que precisamos ser corajosos para assumir quem realmente somos. Mas somos fracos e imaturos emocionalmente para isso. Desta forma, fica a reflexão: Esconder nossa essência não é a melhor escolha. Melhor é ter atitude, coragem e força para sustentar quem realmente somos, retirando as máscaras. Vamos em frente!

 Igrejinha original de São Francisco, localizada dentro da Basílica Santa Maria dos Anjos (Assis-Itália). Fonte imagem: prontoparaviajar.blogspot.com.br