segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sinto muito

Sinto muito por todos,
Sinto muito. Sinto muito mesmo.
Como uma vela que acaba seu fogo, assim me sinto.
Preciso do fogo. O fogo que alimenta minha alma de sentimentos.
Saudade, serenidade, sinceridade, solidariedade. Sumiram!!!
Como parafina que sustenta o fogo da vela. Somente teremos o sucesso, quando esses sentimentos retornarem.
A vela queima. Vai queimar até esgotar suas forças. Observem uma vela.
Minhas forças acabaram. Desisto. Não há o que possa ser feito.
Desisti de tentar acender a vela das pessoas, todos já estão com o pavio curto.
Saudade. Não existe mais. Existem apenas lembranças de momentos, mas que logo também serão esquecidos.
Serenidade. Não existe mais. Existe apenas uma espécie de calmaria, mas que logo é destruída quando exige autocontrole.
Sinceridade. Não existe mais. Existe muita falsidade. Todos são falsos, inclusive consigo mesmo.
Solidariedade. Não existe mais. Muitos tentam, mas gostam da solidariedade paga. E gostam do pagamento imediato.
O pavio está curto. Curto ao ponto de queimar o castiçal, mas antes de queima-lo, o fogo vai apagar.
Preciso do fogo. Muitos já tentaram levar esse fogo em uma tocha e reascender em todos esses sentimentos.
Tentaram ensinar a sentir a verdadeira queimação de uma saudade. Mas sentem saudade na velocidade que queima a pólvora.  
Tentaram ensinar a sentir serenidade. Já olharam uma fogueira queimar? Serenamente vemos o fogo consumir a madeira. Mas vejo muitos colocarem lenha na fogueira evitando a serenidade.
Tentaram ensinar a sentir sinceridade. Mas como? Foi queimada completamente da essência humana.
Tentaram ensinar a sentir solidariedade. Até tentamos ajudar o amigo a acender sua chama. Mas logo mais tentaremos de alguma forma cobrar nossos direitos.
A vela apagou. Não aguento mais. Não quero mais. Não preciso mais.
Espero que consigam acender a chama dos sentimentos.
Muitos estão com a chama na mão, como uma tocha. Tentando acender a vela das pessoas.
Permita que acendam sua vela.
Os sentimentos retornarão. Seus sentimentos voltarão.
Não desistam como eu. Estou sendo fraco.
Sinto muito.
Sinto muito mesmo.  
Carta poema produzida por Bruno Pitanga através do espírito de Filippo Marinetti (1876-1944). 


quinta-feira, 4 de junho de 2015

A trilha das possibilidades

“Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão(...)”. Bela estrofe dos Engenheiros do Hawaii.
Um dia me disseram. Já me disseram tantas coisas, que nem sei mais o que é verdade ou mito. Todos gostam de opinar sobre determinado assunto, apresentando sua opinião de forma preconceituosa, sustentadas apenas por suas convicções. Dizem: “Que se dane a opinião do outro, a minha deve prevalecer”. Precisamos entender que existem possibilidades, palavra que considero bastante desafiadora, pois afirmar que sua opinião é uma possiblidade fará revelar possibilidades de respostas. Claro que para alguns assuntos não existem possibilidades, mas para muitos outros... Disse Albert Einstein “O segredo da criatividade está em dormir bem e abrir a mente para as possibilidades infinitas”.
Sobre a vida? Possibilidades. Sobre a morte? Possibilidades. Sobre a saúde? Possibilidades. Sobre a doença? Possibilidades. Possibilidades e possibilidades. São muitas as possibilidades. Não tenho mais paciência para conversar ou debater com pessoas que não estão abertas às possibilidades. A cada dia reconheço que não sabemos tanto quanto imaginamos. Nosso conhecimento é bastante limitado.
Penso que não precisa forçar o outro a aceitar a sua verdade. A sabedoria está em deixar o outro reconhecer, de acordo com seus princípios, a sua própria realidade. O verdadeiro sábio não aceita nem impõem dogmas, pois já percebeu que a verdade absoluta é limitada. Concorda também que ter rótulos não representa a sabedoria. Precisamos refletir: Quantos rótulos fazem parte da minha vida? Aceito as possibilidades? Reconhecer os rótulos e aceitar as possibilidades nos direcionará para a verdadeira essência da sabedoria.
Certa vez resolvemos fazer uma trilha em uma reserva de mata atlântica. No entanto, em um determinado momento parecia que estávamos perdidos. Foi então que por ali passava um senhor. Rapidamente me aproximei desse senhor e perguntei: “Senhor, estamos perdidos. Poderia nos apontar o caminho para o vilarejo”? Sabiamente o senhor respondeu: “Existem duas possibilidades”! E descreveu-as. Voltei para o grupo e apresentei as possibilidades, ao que responderam: “Poxa Bruno, não queremos possibilidades, precisamos voltar para o vilarejo”! Fiquei sem respostas. O Senhor percebendo a confusão se aproximou e disse: “Apresentei possibilidades, não existe caminho melhor ou pior, apenas possibilidades. Aquele que escolherem os levará ao vilarejo com o mesmo tempo e segurança”. Respiramos fundo, agradecemos ao senhor, e partimos.
Esse episódio nos mostra que não gostamos das possibilidades, preferimos a resposta pronta e rotulada. Mas quase tudo são possibilidades. Gostamos de ser direcionados para alguma verdade, pois muitas vezes não temos paciência para pensar sobre as possibilidades. Assim ficamos refém de determinado conhecimento sem nem mesmo refletir sobre aquilo que estamos pensando. Muitos não têm opinião, estão escravizados por opiniões dos outros. Precisamos ter nossa opinião. Por isso, na minha infância, quando me disseram que as nuvens não eram de algodão, pensei: “Tudo bem, mas essa é uma possibilidade”!

Hyde Park. Londres.
 Fonte: www.panoramio.com