segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Malquerença

Aquilo que importa mesmo é estar atento aos detalhas da vida. Conhecer pessoas e aprender com elas é fundamental para nosso crescimento espiritual. E uma simples viagem pode nos proporcionar esse amadurecimento.
Durante minhas férias resolvi descansar em um local fora do comum. Viajei para o Vale do Capão – Chapada Diamantina, a 466 Km de Salvador (BA). Cidadezinha calma, onde a paz está bem presente, lá parece que o tempo parou. O que mais impressiona são as pessoas que moram nessa cidade, todas desapegadas e felizes. Já perceberam que a felicidade não está nos bens materiais, despertaram para a verdadeira essência de uma vida feliz.
Ao passear pela cidade em busca do famoso pastel de palmito de jaca, considerado uma iguaria tradicional do Vale do Capão, entrei em um restaurante bastante simples. Lá dentro percebi que uma senhora espiava o movimento da cidade pela janela. Logo de imediato perguntei seu nome, ela respondeu Anita. Disse também que mora no Vale do Capão há 90 anos. E depois de muita conversa soltou uma pérola incrível: Tenho 90 anos e nunca tive malquerença. O que é isso? Me perguntei! Fiquei curioso para saber o significado de malquerença, pois isso era a receita para a sua longevidade.
Busquei o significado dessa palavra e logo encontrei. Malquerença é sinônimo de inimizade, egoísmo, antipatia e aversão. Então pensei: Para viver muito é fundamental a benevolência, demonstrar amizade, ser carinhoso e simpático com o próximo, ter boa vontade para ajudar aqueles que mais precisam, ou seja, ser altruísta. Essa é a simples orientação da Dona Anita para se chegar a velhice com muita saúde e vitalidade.
Para Dona Anita viver bem significa ter vários amigos, mas amigos sinceros. Durante nosso percurso, a estrada da vida nos apresenta muitos camaradas, alguns pedem carona e concebemos a companhia. Aproveitamos intensamente cada instante. Mas com o passar do tempo percebemos que os destinos são diferentes, e cada um segue seu caminho. Nesse caso a amizade não acaba, resta dentro de nós bastante vivas as lembranças da viagem realizada, todos os momentos que marcaram. Certamente outras caronas irão acontecer, que podem inclusive durar a vida toda. O importante disso tudo é não ter malquerença. É aceitar o pedido da carona e permitir a viagem juntos, sem preconceitos ou pré-julgamentos, pois sozinhos não conseguiremos atravessar a estrada da vida. Precisamos entender que existem trajetos de terrenos difíceis, e com as amizades será mais fácil superar esses desafios. Por isso cultive sempre suas amizades.
Viver muito significa ser generoso, demostrar afeto, ter humanidade e compaixão.  Não esqueça do efeito bumerangue, tudo aquilo que é lançado volta para quem lançou com a mesma intensidade.  Então siga os conselhos da Dona Anita! Seja simpático, procure gostar de gente, seja amigo. Vivendo assim tudo em sua vida dará certo, pois receberá a paz como retorno. E paz é igual a saúde!
Mas infelizmente o que vemos, muitas vezes, é o ódio entre os seres humanos, pessoas que não gostam de pessoas. Vejo, mas não queria ver, a raiva no olhar de muitos, querendo destruir o sucesso do outro. Todos deveriam conhecer a receita da Dona Anita. Receita difícil para os dias de hoje, onde predomina o individualismo, impera a particularidade e infelizmente reina a malquerença. Cada vez mais as pessoas se isolam nesse mundo e se afastam da verdadeira essência do altruísmo. Vivendo desta forma a doença é certa!
Dona Anita realmente é uma senhora muito sabia. Conseguiu viver sem malquerença durante 90 anos esbanjando muita saúde. Portanto, estimule o amor, fragilize o ódio. Anime-se com o perdão, entristeça-se com vingança. Entusiasme-se com a fraternidade, desanime-se com a maldade. Abrace a cordialidade, afaste as indelicadezas. Pratique o desapego, e pare de ser egoísta.
Somente assim acabaremos com a malquerença e conseguiremos viver com muita saúde durante muito tempo. 
Dona Anita e Bruno Pitanga
Foto: Gustavo Rodrigues